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A propagação do cristianismo

Vários fatores favoreceram essa expansão: a unidade do império, o uso geral das línguas gregas e latinas na bacia do Mediterrâneo, a disseminação dos judeus, a pureza da doutrina mais que tudo. São Paulo, que foi o maior divulgador do Cristianismo, que era até então uma religião judaica, era judeu, mas de cultura helénica. Vivia em Tarso, centro intelectual de renome, e tinha a vantagem de ser cidadão romano. Foi êle quem, em mais de 30 anos de apostolado, espalhou o novo credo, até então confinado aos da sua raça, entre os gregos da Ásia Menor, da Grécia e da Macedónia, antes de passar à Itália, dirigindo-lhes suas famosas epístolas. No século III já se encontravam missionários ao longo do Reno e do Danúbio e na Britânia. A maior sugestão viria entretanto do fato de um imperador romano, adorado pelos seus súditos, adorar por seu turno um profeta provinciano, que nem pertencia à nobreza sacerdotal e morrera crucificado, gênero de suplício que Constantino aboliu.

A doutrina cristã

Esse rabi da Galileia, cujos primeiros discípulos se recrutaram entre pobres pescadores do Lago de Tiberíade, fundara uma doutrina que tanto servia para os humildes como para os poderosos: era a doutrina da esperança, da promessa de uma vida eterna de bem-aventurança, no seio do Criador, para os que praticassem o bem, de castigos também eternos para os que cometessem o mal. O estoicismo já estabelecera a igualdade humana, mas punha o galardão da virtude na satisfação do dever cumprido. Era uma filosofia, não uma religião, e sua doutrina destinava-se mais ao escol social, às classes ilustradas, do que a moral do Evangelho, que foi verdadeiramente, como a definiu numa frase célebre o apóstolo e mártir da humanidade — êle assim se julgava — Jaurès "la vieille chan-son que berçait la misère humaine".

A preocupação da vida futura

A preocupação da vida futura era falha no paganismo, e os espíritos sequiosos dela a procuraram em ritos secretos e crenças exóticas, que foram talvez os adversários mais fortes com que teve de lutar o cristianismo. Os mistérios órficos filiavam-se na ida de Orfeu aos infernos para buscar sua esposa Eurídice e os mistérios de Eleu-sis na reclamação de Demetér (Ceres), a deusa da vida na natureza, para que lhe fosse restituída a filha Perséfone (Prosérpina), roubada por Hades (Plutão).

Os mistérios órficos e de Eleusis

Metidos na sombra, ocultos em recessos vedados aos profanos, os iniciados atingiam nos seus cânticos e danças o frenesi religioso e suas almas uniam-se no antegozo da existência dalém-campa. Dionisos, que era a divindade adorada nos mistérios órficos, simbolizava o poder reprodutor da natureza. Prosérpina tomou-se em Eleusis (a uns 20 quilômetros de Atenas) a alegoria da ressurreição, não só da vida vegetal na primavera, como da vida humana. Os mistérios tinham portanto uma significação mais profunda do que os sacrifícios do politeísmo e a esperança que deles brotava fazia parecer a morte mais suave.

As religiões orientais

Sua influência aumentou nos primeiros séculos da era cristã e conjugava-se em Roma com a das religiões orientais que tinham sido trazidas pelo contato de soldados, escravos, visitantes e traficantes. Cibele foi um culto popular na urbs com seus padres cantores e bailarinos ao som das flautas, címbalos e tamborins, desde o tempo da república, o século III a. C: aqueles chamados fanatici (de fanum, tempo) dançavam até se extenuarem. O culto de ísis, introduzido no século II a. C, atraía especialmente as mulheres, que viam na deusa o tipo glorificado do seu sexo. Ela era a rainha da paz (plácida regina): padres de branco e tonsurados rezavam e queimavam incenso diante do seu altar. A religião persa de Mitra, o deus do sol em luta com as trevas, era um culto nobre e elevado que incluía a proteção dos miseráveis, a purificação do pecado e a conquista da imortalidade, com ritos encerrando o batismo, o repasto sacrificai de pão e vinho e ladainhas ao astro rei. O dia de Natal (25 de dezembro) era o festejado como o do nascimento do Sol Invencível-Mitra.

 

O grego e o latim na literatura eclesiástica

Tais religiões orientais não eram propriamente nacionais, antes eram universalistas, o que explica sua concorrência, que a superior doutrina cristã facilmente eliminou. Os autores cristãos dos três primeiros séculos, bem como os escritores do Novo Testamento, empregaram o idioma grego e bastantes dentre eles provinham da Ásia Menor, como São João Crisóstomo, do Egito como Orígenes e Atanásio, de Cartago como Tertuliano e Cipriano, da Numídia como Santo Agostinho, da Dalmácia como São Jerônimo. Estes últimos Padres da Igreja, os do século IV especialmente, empregavam porém o idioma latino, que no Ocidente era mais conhecido. São lerônimo foi até quem traduziu para o latim a Bíblia ou pelo menos reviu a tradução desta no texto consagrado da Vulgata.

A Igreja sucessora do Império. A hierarquia

Escreve um historiador que na Igreja cristã se inoculou com Constantino o espírito militar de Roma e foi ela de fato dentro em pouco a mais legítima sucessora do império romano, modelando-se pela sua organização e crescendo como um grande Estado espiritual, servido por uma hierarquia, o qual se sobrepôs ao Estado temporal. Contando com o pontífice único e supremo, havia patriarcas, em número de cinco, no fim do século IV e residindo em Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e lerusalém. Abaixo dos patriarcas estavam os arcebispos, metropolitanos de províncias nas quais existia desde o século III um corpo episcopal, tendo-se congregado as primitivas irmandades assistidas pelos presbíteros ou anciões e governadas pelos bispos ou fiscais, do grego episcopos. A expressão ecclesia é a mesma grega para assembléia popular.

O papa e as razões do primado

O termo latino papa (pai) aplicava-se de começo a todos os bispos e mesmo aos padres. Do século VI em diante foi que entrou a designar particularmente o bispo de Roma, a quem Gregório VII, pontífice romano, em 1076 o mandaria aplicar exclusivamente com o epíteto prefixo de Santo. Entre os patriarcas o de Roma sempre se considera o primaz, por instituição divina na pessoa de São Pedro e seus legítimos sucessores; esse primado se tornou visível pelo prestígio incomparável de Roma entre as cidades do mundo; pela proteção que aos seus bispos, na falta de soberanos, foi proporcionado dispensarem à sede da Igreja por ocasião dos ataques dos bárbaros; pelo acréscimo de autoridade que para esses altos dignitários eclesiásticos resultou da abolição da dignidade imperial no Ocidente; pelo elevado valor moral de algumas das figuras que ocuparam o sólio pontifical tais como as de Leão Magno e Gregório Magno; pela perda no século VII dos patriarcados da Ásia e África às mãos dos sarracenos; pela continuação das suas funções arbitrais entre teutões e italianos, que prontamente levou o papado à assunção de iguais funções entre cidades, Estados e reis; pelo apoio que de um centro assim importante recebia a doutrina mutilada pelos heresiarcas; finalmente pelo zelo missionário que o catolicismo romano desenvolveu entre as nações pagãs.

O primeiro concílio ecumênico

Foi Constantino quem maior incentivo e facilidades prestou à convocação em Nicéia, na Ásia Menor, em 325, do primeiro concílio ecumênico, que definiu o credo cristão contra as primeiras heresias, das quais a mais famosa foi o arianismo, do nome do presbítero Ário que a suscitou, negando a igualdade de Deus filho com Deus pai e portanto a concepção ortodoxa.

O cristianismo religião do Estado. Juliano, o Apóstata

Meio século depois de Constantino promulgar seu édito, o imperador Juliano, cognominado o Apóstata, seu sobrinho, repudiou a fé cristã e procurou restabelecer o paganismo, não por meios violentos, antes por meios suasórios, êle próprio escrevendo em favor das antigas crenças. A substância moral do novo credo assegurou-lhe a existência: o sucessor de Juliano (361-363), loviano, logo voltou à fé de Constantino. Com Teodósio, o Grande, (379-395) foi o cristianismo feito religião do Estado, sendo proibidos os sacrifícios aos deuses pagãos, fechados seus templos e arrecadados os bens respectivos, abolidos os oráculos e os mistérios e vedado o culto dos lares e penates. Todo o patrocínio oficial foi dado ao cristianismo, sendo facultado às suas associações recolherem doações e legados e contribuindo o próprio imperador com donativos em dinheiro e terras.

O triunfo do cristianismo

Da pobreza passava assim a Igreja à abastança e a lei de Cristo sobrepujou por forma tal a lei de César, o poder espiritual tanto prestígio ganhou sobre o temporal, que no século IV, Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, proibiu a entrada no templo a Teodósio, o Grande, por haver ordenado o massacre dos habitantes de Tessalônica. O imperador, após confessar o pecado, teve que fazer penitência pública por oito meses à porta da igreja. Também no fim do século IV o paganismo estava extinto. Triunfara a força moral do cristianismo, com seu tesouro de idéias de bondade e de fraternidade prática. Os bárbaros próximos às fronteiras tinham ido adotando a nova religião, o que não deixou de ajudar a fusão pacífica de conquistadores e conquistados.

Os sucessores de Constantino e os destinos do Império

Depois da morte de Constantino, cuja corte faustosa e cujos éditos com força de lei como que imprimiram ao império bizantino o seu caráter histórico de despotismo aliado ao luxo e aos prazeres, recomeçaram as lutas pelo mando, primeiro entre seus três filhos, que retalharam administrativamente a monarquia. Chegou um deles, Constâncio II, a reuni-la novamente (350) associando ao seu governo Juliano, o qual, vencedor dos francos e alemães, foi proclamado imperador pelas legiões da Gália e morreu logo depois (363) combatendo os persas.

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