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Primeira aparição dos bárbaros. Os gauleses em Roma

Os historiadores romanos de épocas ulteriores gostavam de lisonjear o amor-próprio nacional e nem sempre se pode dar crédito à sua narrativa da qual consta, neste ponto, que o resgate não chegou a ser transportado, tendo os gauleses sido batidos por um exército composto dos cidadãos fugitivos e que providencialmente apareceu sob as ordens do ditador Camilo, o vencedor de Veios, a quem se atribui a frase de que Roma se redimia com aço e não com ouro. A Camilo diz-se ser devida a organização militar a que Roma tem que agradecer suas vitórias, e que evidentemente se foi aperfeiçoando através dessas constantes pugnas.

Retirada dos gauleses

O exército permanente começou naturalmente quando o soldo substituiu o produto variável do saque e as campanhas de verão se prolongaram pelo inverno. Dos 4 200 homens de que se compunha a legião, 3 000 eram de infantaria pesada, armados do capacete, da cota de malha e das grevas, e 1 200 de infantaria ligeira ou velites, afora 300 cavaleiros. Os soldados fornecidos pelos Estados aliados, especialmente archeiros e cavaleiros, denominavam-se auxiliares e eram tão numerosos quanto os legionários.

O exército permanente. Legionários e auxiliares

Novas vicissitudes aguardavam no entanto Roma antes de se iniciar sua extraordinária expansão. Os samnitas foram seus piores adversários na luta pela supremacia na península. Eram fortes e aguerridos montanheses dos Abruzzos que cobiçavam, tanto quanto os romanos, a fértil planície da Campânia com suas viçosas cidades de Cumes e Nápoles, fundadas pelos gregos. Três foram as guerras movidas por esses respeitáveis adversários e estenderam-se por mais de meio século (343-290 a. C), envolvendo quase toda a península, cujo senhorio estava em disputa, levando Roma 500 anos para alcançá-lo.

Guerra dos samnitas. As Forcas Caudinas

A princípio sofreram os romanos um duro revés. Não era aliás fácil bater os samnitas nas suas montanhas e os dois cônsules foram cercados com suas duas legiões num desfiladeiro, nas Forcas Caudinas, tendo de passar sob o jugo desarmados, vergados e em camisa. Apesar de se aliarem aos etruscos, aos gauleses da Cisalpina e aos gregos de Tarento, os samnitas foram batidos na batalha de Sentinum, na Úmbria (295 a. O, correndo-lhes desde então adversa a sorte, sendo aniquilados não obstante o seu número e o seu heroísmo. O destino de Roma tornava-se manifesto.

A guerra latina. O jus omanum e jus latinum

Antes dessa grave prova ultimada, tinha ocorrido (340-338 a. C.) a chamada guerra latina, que pôs em perigo a confederação do Lácio, rebelando-se as outras cidades contra a supremacia de Roma e pretendendo que um dos cônsules e metade do senado fossem latinos e não apenas romanos. Repelida porém esta pretensão e tendo ganho de causa a urbs, foi dissolvida a confederação, conservando algumas das cidades sua independência e convertendo-se outras, com seus territórios, em municípios romanos. Os habitantes de alguns destes foram admitidos à plenitude dos direitos de cidadão romano (jus romanum) e ficaram os habitantes de outros gozando de parte apenas desses direitos (jus latinum).

Hierarquia política da cidades

Havia assim uma espécie de hierarquia política nessa aplicação do princípio: divide ut imperes. As cidades de direito romano, cujos filhos podiam ser até admitidos no senado, elevaram a 300 000 o número dos legionários com que Roma podia contar nos meados do século III a. C. As cidades de direito latino tinham uma organização idêntica à de Roma, mas autônoma, seus magistrados consulares sendo feitos, ao deixarem o cargo, cidadãos romanos, como hoje são os procônsules britânicos feitos lordes. Havia uma terceira categoria de cidades, de fidelidade menos segura, que não possuíam assembléias nem cônsules e eram discricionàriamente governadas por um prefeito nomeado pelo senado.

Os povos aliados e amigos. Proibições

Fora desses núcleos de cidadãos vivendo no domínio romano (ager romanus) ou usufruindo os privilégios romanos, havia os povos itálicos que Roma não admitira ainda no seu seio, mas que tampouco tratava como súditos. Eram os chamados aliados e amigos. Roma deixara-lhes autonomia e não exigia deles tributos: apenas que lhe fornecessem tropas em tempo de guerra. Retirou-lhes entretanto os direitos de travarem hostilidades entre si, de assinarem tratados e de cunharem moedas. Para obstar a uma nova liga como a que uma vez se formou contra Roma, foram proibidos casamentos e tráfico mercantil entre os habitantes de certas unidades urbanas aliás gozando de favores em matéria de direitos políticos. Os governos espanhol e português imitaram esta restrição na proibição do comércio entre suas próprias colônias.

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