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Cláudio

Cláudio, irmão de Germânico, parecia pela timidez quase um imbecil e teve a desventura de um lar poluído e criminoso. Foi sua primeira mulher a depravada Messalina, que se tornou preciso matar, e a segunda sua sobrinha Agripina, filha de Germânico e mãe por um primeiro casamento de Nero, a qual envenenou Cláudio para o filho herdar mais cedo o império em detrimento de Britânico, filho de Cláudio e de Messalina. O próprio Nero, que como mais tarde Domiciano, principiou dando as melhores esperanças, dentro em pouco convertidas em atroz desilusão, encarregou-se de mandar assassinar Britânico e Agripina.

Anexação da Britânia. A Europa não conquistada

No reinado de Cláudio (41-54) foi anexada a Britânia, sendo submetida sua parte meridional. A conquista foi ultimada por Agrícola, sogro de Tácito, em tempo de Domiciano: a parte setentrional da primeira terra abordada por Júlio César, e a região que depois se denominou país de Gales, entraram a fazer parte da nova província, organizada no ano 43, somente no fim do século I da era cristã. A Caledônia (Escócia) e a Hibérnia (Irlanda) nunca constituíram território romano, assim como a Germânia nunca foi convertida em província do império, os legionários regressando sempre das suas incursões, mesmo vitoriosas, com uma impressão inquieta, na expressão de um historiador francês. O posto militar da vanguarda romana foi a colônia denominada Agripinensis, do nome da filha de Germânico ali nascida: é hoje a cidade de Colônia. Uma forte muralha estendia-se além do Reno, de Confluentes (Coblenza) a Regina Castra (Ratisbona), sobre o Danúbio.

Nero e os cristãos

No reinado de Nero (54-68), assinalado por tantos crimes, tiveram início as perseguições gerais contra os cristãos, cujo Mestre fora supliciado em Jerusalém, no tempo de Tibério. Acusados do incêndio de Roma — o qual se diz haver sido obra do próprio imperador, que a êle assistiu dedilhando a lira e entoando cânticos com sua "voz divina" — foram vítimas de horrorosos castigos como o de servirem, besuntados de resina, de tochas vivas para as orgias dos jardins imperiais (64). O intuito de Nero era acabar com a velha Roma e edificar uma capital uniformemente formosa: a Casa de Ouro por êle mandada levantar para palácio dos Césares dá testemunho da sua magnificência.

Seus sucessores imediatos

Declarado afinal, quando ausente no Oriente, inimigo público pelo senado, Nero suicidou-se, sendo seus três sucessores elevados ao poder no decorrer de um ano (68 a 69); Galba, morto pelos pretorianos, Otão, pelas legiões do Reno, o glutão Vitélio, pelas legiões do Oriente, que proclamaram Vespasiano, homem sisudo e administrador zeloso e econômico. Chama-se a esta a família Flávia: os dois filhos de Vespasiano (69-79) distinguiram-se, um, Tito, pela doçura, o outro, Domiciano, pelo espírito vingativo.

 

Os Flávios

Em tempo de Vespasiano revoltaram-se as tribos do Norte da Gália — belgas, batavos e frísios — sendo submetidos pelo general Cerealis, à frente de 33 legiões, e executados, o chefe rebelde Sabino e sua esposa Eponina. Na curta administração de Tito teve lugar (79) a famosa erupção do Vesúvio, que sepultou Herculanum e Pompeia sob lava e cinzas e custou a vida ao naturalista Plínio sênior. Domiciano sustentou sua popularidade por meio de confiscos de bens dos ricos, e levou a corporação senatorial à extrema abjeção de discutir em sessão qual o melhor molho a servir com certa qualidade de peixe.

Nervo, Trajano e Adriano

Domiciano sofreu igualmente morte violenta (96) e o senado, recobrando algum resto do seu esvaído vigor, escolheu imperador um dos seus membros, o velho Nerva, que governou paternalmente ano e meio e escolheu como herdeiro o espanhol Trajano, o primeiro provinciano a receber a dignidade imperial. Trajano (98-117) levou o domínio romano ao seu auge. Augusto fixara os limites no Danúbio e no Eufrates: êle conquistou a Dácia, que é hoje a România, onde se estabeleceram milhares de colonos latinos, e incorporou a Armênia, a Mesopotâmia e a Assíria, sendo dessas terras despojados os partos. Adriano, outro provinciano (117-138), recuou de novo a fronteira oriental romana para o Eufrates, mas realizou um trabalho pode dizer-se de consolidação, visitando demoradamente numerosas províncias, indo até a Britânia, e dotando-as de melhoramentos materiais. A muralha que isolou a província britânica dos malfeitores cale-dônios foi construída então. Em trabalhos semelhantes se empregava o exército em tempo de paz: estradas, pontes, aquedutos e fortificações.

Os Antoninos

Antonino, o Pio, filho adotivo de Adriano e natural de Nimes, e Marco Aurélio, o filósofo, filho adotivo de Antonino (Adriano’ também o foi de Trajano) são os dois imperadores que maiores simpatias despertam pela sua elevação espiritual. Durante o reinado do primeiro (138 a 161) o império conservou-se em paz, e se o segundo não teve igual fortuna porquanto os bárbaros de além das fronteiras do Reno e do Danúbio e os partos o forçaram à atividade militar, deixou um nome ilustre como autor das Mediíações, o livro da antiguidade pagã que se diz aproximar-se mais do espírito cristão. Marco Aurélio foi um estóico na doutrina e nos atos: entretanto perseguiu os cristãos como seus predecessores Domiciano e Trajano o tinham feito. Agora acusavam-nos de terem atraído sobre as populações a cólera dos deuses pelo fato de a peste negra haver assolado a Itália, trazida pelos soldados que foram à Ásia castigar os partos, e que restabeleceram a autoridade imperial sobre parte da Mesopotâmia.

O exclusivismo cristão

Os cristãos despertavam muitas antipatias pelo seu exclusivismo religioso, justificado pela intransigência do convicto da verdade, que não pode pactuar com o erro. A tolerância romana em matéria de religião permitia na nação todas as variedades de cultos, mas não admitia outra supremacia que não fosse a da religião tradicional da urbs. Os infiéis podiam ter suas crenças, contanto que ao mesmo tempo queimassem incenso diante das divindades romanas.

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