Índice

Continued from:

A guerra dos piratas

Outro assunto, afora o alastramento da desonestidade oficial, que reclamava imediata atenção, era a invasão do Mediterrâneo por piratas de todas as terras marginais, proveniente mesmo do fato de Roma haver destruído as frotas inimigas e acabado por descurar a própria. Esses piratas já formavam um verdadeiro Estado, com refúgios fortificados nas montanhas do litoral e mil velas, viajando por comboios à caça de presas, por vezes se afoitando a saquear cidades da costa e levar cativos seus habitantes. Chegou sua ousadia ao ponto de raptarem negociantes na via Ápia a fim de obterem dinheiro pelo seu resgate e de interceptarem os navios transportando trigo para o consumo de Roma, fazendo subir extraordinariamente o preço do cereal.

A destruição de Mitridates. Prestigio de Pompeu

Concederam-se então (67 a. C.) e por três anos os mais latos poderes ditatoriais, marítimos e costeiros, a Pompeu, o qual limpou o Mediterrâneo dessa praga, capturando os principais refúgios dos piratas na Cilicia e organizando colônias com os prisioneiros. Vitória de tão práticos resultados valeu-lhe o ser-lhe confiada a missão de acabar com o espantalho de Mitridates, que entretanto fora batido, juntamente com o rei da Armênia seu genro, por Luculo, a quem uma revolta das suas legiões obrigou a suspender as operações. Pompeu derrotou-o, mas o grande rei do Ponto, que tão bem mereceu a qualificação de indómito, apareceu ainda no Bósforo, pensando penetrar no vale do Danúbio e renovar a façanha de Aníbal, caindo sôore a Itália. Traído pelos seus soldados e por seu próprio filho, envenenou-se ou foi morto por esse (63 a. C). A campanha contra os piratas durara três meses; a guerra contra Mitridates levou dois anos — 66-64 a. C. Pompeu completou sua obra na Ásia ocupando e organizando em províncias o Ponto, a Síria, a Cilicia e a Fenícia. Interveio também na Palestina e distribuiu os empregos nessas regiões conquistadas por amigos e aderentes, de modo a aumentar sua influência, que era das mais consideráveis.

Crasso e César

Dois homens apenas em Roma lha poderiam disputar, que eram Crasso, aristocrata de enorme fortuna pois que deixou o equivalente de 40 milhões de cruzeiros, e Júlio César, rico de dívidas e de popularidade, a qual êle cortejava assiduamente, como cortejava a glória.

A popularidade saía muito cara com os gastos dos jogos e da comida, mas Crasso emprestava-lhe dinheiro, julgando-o um bom emprego de capital, e também um ano de governo na Espanha ajudou-o a saldar parte dos seus compromissos. Pompeu poderia ter sido, se quisesse, o senhor único de Roma, mas faltava-lhe para tanto imoralidade política e mesmo, apesar do seu orgulho, aumentado pelas suas vitórias, a ambição de substituir Sila como ditador.

Contentava-se com ser o primeiro general e o primeiro cidadão da república, e deu a melhor prova da lealdade dos seus intuitos debandando seu exército e apresentando-se despido de ameaças, pelo que o senado se achou à vontade para tomar acintosa conta da sua gestão dos negócios públicos e até para negar aos seus veteranos as doações costumeiras de dinheiro e de terras.

O corrilho senatorial

As liberdades republicanas tinham porém de ir parar às mãos de um ditador, passando das mãos da oligarquia que as manejava sob as vistas ciumentas dos senadores de fora do corrilho. Ou a mono-cracia, ou a anarquia em que aquelas liberdades soçobrariam. A conspiração abortada de Catilina, que a eloqüência de Cícero, então cônsul, tornou imorredoura, deu o rebate do extremo perigo.

A conspiração de Catilina

Quando as legiões de Pompeu se achavam no Oriente, aquele patrício arruinado, senador e aspirante malogrado a cônsul, que fora um dos mais ferozes oficiais de Sila e auxiliares das proscrições, planejou com outros dissipados endividados e com velhos militares das legiões de Sila, ansiosos por uma nova pilhagem, saquear as riquezas de Roma depois de assassinados os cônsules e quanto mais lhes acudissem à mente. Com eles estavam libertos, camponeses esfomeados e escravos fugidos. O único resultado foi porém, diante da vigorosa catilinária de Cícero, perderem muitos conspiradores, inclusive o chefe, a vida, num encontro desesperado em Pistoi com as forças legais comandadas por Marco Antônio, e sendo outros cúmplices sumariamente executados em Roma (62 a. C).

O primeiro triunvirato. Catão e Cícero

O triunvirato, que data — o primeiro — do ano 60 a. C, não foi uma forma legal de governo: foi tão-somente um arranjo particular pelo qual Pompeu, Crasso e Júlio César concordaram em chamar a si a administração, derrubando a supremacia do senado. Pompeu, desgostoso com a oposição de Catão, o moço, que levara o senado a não ratificar as medidas tomadas por êle na Ásia, tinha passado para o partido popular, que César dirigia apesar de ser de uma velha família patrícia. Catão sobretudo temia, na sua rigidez republicana, o prestígio excessivo de qualquer ídolo democrático, facilmente transmudado em tirano. Juntamente com êle defendia o velho regime o maior orador e escritor da Roma antiga, Marco Túlio Cícero, homem que por si se fizera e não só dotado de uma peregrina inteligência como de um caráter brando e amável. Incapaz de perseguir seus adversários por mero espírito de vingança ou por maldade e cultor assíduo da amizade, Cícero gozava dos elogios que lhe eram tributados e era pouco inclinado às soluções extremas. Politicamente seu ideal consistia na restauração das boas normas republicanas com um senado moralizado.

César e os Comentários

Após exercer o consulado, no qual teve por colega Pompeu (60 a. C.) Júlio César solicitou o governo das Gálias e da Ilíria em que durante oito anos se ilustrou em oito campanhas e modelou o exército com que devia assenhorear-se sozinho do poder. Os Comentários dão a medida da sua atividade e descrevem com elegância literária sua vasta obra. Deteve os helvécios; repeliu os germanos e, lançando uma ponte sobre o Reno, os foi atacar nas suas florestas;duas vezes invadiu a Britânia e subjugou os belgas e os aquitanos, assim completando a conquista da Gália e vencendo pela fome, no cerco famoso de Alésia, Vercingetorix, chefe da última das revoltas que assinalaram o proconsulado de César.

 

Romanização das Golias

 

O chefe gaulês foi estrangulado após seis anos de cárcere, crueldade que estava longe de merecer a abnegação com que se sacrificou pelos seus e que destoa dos processos habituais de César, que ao viger do comando unia a liberalidade da administração. O efeito da sua ação foi romanizar a Gália e portanto aumentar o número das futuras nações neolatinas da Europa. Doutro modo a França teria sido toda germanizada pela migração das tribos de leste, as quais teriam começado muito mais cedo a transbordarem sobre o Ocidente obstando à sua latinização. Ao norte da Gália Céltica já se estendia uma Gália Bélgica.

Entretanto as 300 tribos gaulesas foram moralmente anexadas depois de dominadas (58-51 a. G).

César e Pompeu

A luta tinha de abrir-se entre César e Pompeu. Crasso, que recebera o governo da Síria e pretendera realizar conquistas além do Eufrates, morrera combatendo os partos, que lhe destruíram o exército (54 a. C). Pompeu, nomeado procônsul na Espanha, tratou sobretudo de firmar sua influência em Roma, adulando o povo, edificando imensos teatros, organizando combates de gladiadores e festins públicos. César combateu-o com as mesmas armas, mandando para idêntico fim muito ouro para Roma, aumentando os saldos das suas legiões, onde combatiam também gauleses e germanos, estendendo os privilégios de cidadão romano aos habitantes de várias cidades do seu govêrno.

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.