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Continued from: A CIVILIZAÇÃO ROMANA - Resumos sobre a história de Roma Antiga

As lendas da fundação de Roma

De Alba Longa proveio Roma da seguinte forma, relatada pela Tenda. A filha de um dos seus reis, a vestal Rea, concebeu do deus da guerra, Marte, dois filhos gêmeos, Rómulo e Remo, milagrosamente salvos do Tibre, onde tinham sido atirados, e amamentados por uma loba. Há quem irreverenciosamente diga que Loba era o nome por que era conhecida a mulher, de costumes pouco edificantes, do pastor Fáustulo, que recolheu as criancinhas. Mais tarde Rómulo congregou sobre o Monte Palatino, em cuja fralda fora criado com o irmão, os pastores seus camaradas, dando início à cidade das sete colinas, que veio a ser a capital do mundo.

O terreno fora doado aos dois mancebos por seu avô Numitor, rei de Alba, a quem eles repuseram no trono usurpado pelo tio, o mesmo que os tinha querido sacrificar à nascença. De fato os começos da vida maravilhosa da grande urbs andam envoltos em lendas e tradições que modernos historiadores têm investigado e em muitos casos desfeito, sem contudo as poder substituir por dados mais positivos, mesmo porque os historiadores romanos cujas obras a posteridade conhece, pertencem a época muito posterior e até se esforçavam, como Tito Lívio, para rodear a fundação da sua pátria de uma auréola poética; acrescendo que qualquer documentação primitiva desapareceu no incêndio de Roma pelos gauleses em 390 a. C.

A loba romana. Bronze etrusco, de 500 a. C. Rómulo e Remo íoram acrescentados no século XVI.

Julga-se hoje que a fundação de Roma ocorreu em data bem anterior à fixada — 753 a. C. V

O herói fundador. A religião do lar, a da cidade e a da raça

Roma, como a Grécia, nutriu o culto do herói fundador: Rómulo foi para ela o que foi Teseu para Atenas. Esta religião da cidade completava-se porém com a da família, que lhe servia de fundamento com seus deuses lares e penates, e com a da raça, encarnada no panteão latino. O culto doméstico era cuidadosamente alimentado em Roma, mesmo mais do que na Grécia, por meio de libações em honra dos antepassados, de bolos e iguarias oferecidas aos seus manes em dias especiais, do fogo conservado sempre aceso diante do altar comum, em que eram reverenciados os espíritos dos defuntos, os quais se tornavam protetores do lar no caso de não serem esquecidos pelos seus descendentes. A chama, dizia-se, era a alma da casa.

Enéias, o fabuloso fundador do Lácio, salvara-se de Tróia fumegante carregando aos ombros seu velho pai e seus penates.

O politeísmo dos romanos

A religião doméstica implicava nestas condições a necessidade de perpetuar-se a família: daí o repúdio da mulher quando o casamento era estéril, solução depois corrigida pela prática da adoção. Roma-cidade não venerava porém somente o herói que lhe delineara o recinto originário com a rêlha do seu arado. Tinha, e isto prova sua maior religiosidade comparada com a helênica, o culto de Vesta, que etimologicamente significa lar. A chama desse centro geral do culto doméstico era zelada pelas vestais, castas sacerdotisas que eram enterradas vivas quando porventura traíam seus votos. Essa chama era a alma da cidade.

O politeísmo dos romanos, muito embora importado, tinha uma feição própria: era mais agrícola e guerreiro do que o dos gregos, refletindo cada qual o gênio do povo que o concebera. O Olimpo aparece mais risonho e atraente do que o conselho dos deuses romanos, onde se tinham introduzido divindades mais prosaicas, menos envoltas em ficções e mais adstritas a realidades, como Jano, e deus da paz, Termino, o deus da propriedade, Ops, a deusa da abundância, Pomona, a deusa dos frutos, Melona, a deusa da apicultura, e uma porção mais que não chegavam a personificar forças da natureza, participando mais da natureza dos fetiches.

As superstições

Muitas vezes os fetiches inspiravam superstições, e nestas era fértil o povo romano. Os ritos e os prognósticos ocupavam o lugar dos princípios morais, o que quer dizer que havia formas onde devia existir a essência, assim se explicando o pronto êxito ulterior do cristianismo, o qual veio ensinar virtudes diferentes das que se praticavam e eram alheias à verdadeira piedade. Dos augures se dizia com propriedade que nunca se entreolhavam sem rir, porque davam o valor devido aos vaticínios que formulavam com a seriedade de funcionários que alguém tratou de arquivistas-contadores.

Os sacerdotes. O paterfamilias

Outros sacerdotes comportava aliás o culto do Estado, organizados em colégios ou corporações. Havia os pontífices, que presidiam quaisquer cerimônias religiosas; os flamínios, votados a um culto especial, desta ou daquela divindade; os feciais, que celebravam os tratados de paz. Nas cerimônias particulares celebravam os chefes de família, sacerdotes da religião dos seus lares. O paterfamílias em Roma exercia uma autoridade legal suprema que ia até à venda e ao suplício, pelo que a família representou em Roma uma escola de abnegação da parte dos que obedeciam e de eqüidade da parte dos que mandavam.

O espírito grego tendia para o belo na verdade; o espírito romano para o positivo na moral. Por isso constituiu o direito a expressão desta sociedade política, ao passo que da outra o foi a especulação filosófica baseada na investigação científica.

Os começos de Roma. Sabinos e etruscos

Roma foi primeiro povoada por malfeitores que se acoitavam dentro dos seus muros e escravos que para lá fugiam^(Por haver Remo zombado da pouca robustez desses muros se conta que o matou o irmão/A lenda do rapto das sabinas indica que lhes faltavam mulheres, pelo que violentamente as procuraram. A guerra que daí adveio findou por uma aliança e um governo conjunto dos dois reis, o romano e o sabino, acabando este último per ser assassinado. O núcleo da população sabina era no Monte Quirinal. O outeiro do Capitólio foi o centro político e religioso da nova cidade-estado, que se foi estendendo pelos montes Célio, Aventino, Esquelino, Viminal e JanículoVeste na margem direita do Tibre.jNo Monte Célio havia um núcleo etrusco, a tribo dos luceres. Esta tribo, a dos ticies ou sabinos do Quirinal, e a dos ramnes ou romanos, foram as três tribos primitivas da cidade, a qual se tomou senhora do Lácio sob seus últimos reis, os Tarqüínios.

Sarcófago etrusco, com casal de cônjuges, em terracota. Séc. VI a. C.

Rcmulo e Remo, alimentados pela loba. Altar de Óstia. A dfreT estátua da deusa romana Juno, no Museu de Nápoles.

 

O período dos reis, que abraça dois séculos e meio pois que vai até 509 a. C, é um período cheio de fábulas. Nenhuma das personagens é rigorosamente histórica, se bem que o seja a evolução da comunidade. Refere-se que Numa Pompílio, escolhido rei depois de Rômulo, era de índole pacífica e deixava-se ditar suas reformas sob a doce persuasão da ninfa Egéria, que o pôs no bom caminho da proteção à lavoura; que Túlio Hostílio era pelo contrário belicoso, tendo destruído Alba-Longa ,após o combate dos três Horácios contra os três Curiácios, de que foi vencedor um Horácio, sendo os albanos levados para o Monte Célio, que Anco Márcio lançou a ponte sobre o rio e construiu o porto de Óstia, prolongando até o mar o domínio de Roma, que no seu tempo incorporou novas populações latinas, estabelecendo parte delas no Aventino; que Tarquinio Prisco, usurpador etrusco, fêz grande número de construções, entre elas a cloaca máxima; que seu genro, Sérvio Túlio, completou a ocupação das colinas romanas, estreitou as relações com os latinos ainda hostis e reformou sabiamente a primitiva organização política; finalmente que Tarquinio Soberbo perdeu o trono pelas suas violências e crueldades e pelo crime de seu filho Sexto, o qual violentou Lucrécia, esposa de Tarquinio Colatino, levando-a a suicidar-se de vergonha. O marido ofendido e um sobrinho do rei, Lúcio Juno Bruto, substituíram a realeza pela república patrícia..

Planta de um templo etrusco.

O período fabuloso dos reis e a república patricia

A realeza assim abolida era absoluta, concentrando os monarcas em si todas qs funções públicas — executivas, militares, judiciais e sacerdotais e sendo para o Estado o que o pai de lamília era para esta. Os chefes dos antigos clãs ou gentes formavam o senado ou conselho consultivo do rei e saíam da nobreza hereditária dos patrícios, nome etimologicamente derivado de patres ou pais, quer dizer os fundadores da pátria. Eles sós tinham todos os direitos e privilégios dos cidadãos romanos: os privados, como o direito de comerciar e o direito de matrimônio, isto é, de formar família com nome patronímico (jus commercii e jus connubii), e os públicos, como o direito de votar na Assembléia, de desempenhar qualquer cargo e de apelar da decisão do magistrado para o povo. O populus no sentido político da palavra era portanto constituído pelo patriciado.e de apelar da decisão do magistrado para o povo. O populus no sentido político da palavra era portanto constituído pelo patriciado.

Organização política e social. Regalias do patriciado

Do direito de mercadejar participaram entretanto pronto os plebeus, na maior parte pequenos proprietários rurais da urbs, cuja população sob os primeiros reis não excedia de 6 000 almas. O jus commercii significava especialmente a faculdade de adquirir e legar bens, assim como o jus connubii equivalia a poder contrair um casamento válido perante a lei. Da família política ou gens, que abrangia as famílias oriundas de um avoengo comum, como os Fabii, os Julii, possuindo por conseguinte um altar comum, faziam parte os escravos e os clientes. Estes eram primeiro plebeus necessitados que recorriam à proteção de um patrono; depois da admissão dos plebeus ao sufrágio, recrutavam-se os clientes mais entre os libertos e os forasteiros pobres, refugiados de outras cidades naquela que Sérvio Túlio, segundo a tradição, cercou de uma muralha de sete milhas de extensão.

Uma das mais antigas moedas romanas, de cobre, de valor equivalente a um boi. 330 a. C.

 

 

Os comitia curiata

A comunidade romana dividia-se em cúrias, correspondendo 10 a cada uma das três tribos da Roma primitiva. Nas cúrias se iam buscar soldados e por elas, isto é, na razão de um voto por cada cúria se votava na assembléia popular (comitia curiata) compreendendo todos os homens livres da cidade. Por homens livres se entendia a princípio os patrícios, membros das tribos originárias. Os plebeus eram os vencidos, os incorporados na população: a distinção tinha assim mais de política do que de civil. A assembléia popular não era propriamente um corpo legislativo: seu papel era de ratificar, aprovar o acesso do novo rei e autorizar certos atos públicos. Tampouco era representativa, pois que não havia mandatários: os cidadãos votavam pessoal e diretamente"

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