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Os hunos no Ocidente

Toda essa região transcaspiana tem ido secando, desaparecendo lagos e rios e vendo-se as tribos nômades obrigadas a maiores migrações. Estabelecendo-se primeiro na Sarmácia, os hunos desceram depois até o Danúbio e pousaram por algum tempo na planície húngara donde, após derrotarem o exército do império do Oriente, exigindo tributo ou sendo este oferecido para os afastar, abalaram em número de 500 000 — dizem outros 700 000 — para conquistar as terras do Ocidente e limpá-las do último vestígio do poderio romano. Comandava-os Átila, apelidado o flagelo de Deus.

A batalha de Chalons. Átila na Itália

Romanos e germanos juntaram-se contra o inimigo comum, que foi batido na planície de Chalons, sobre o Mame (451), pelas forças combinadas do rei franco Merovéu, do rei visigodo Teodorico e do general romano Aécio, que havia 20 anos sustentava o que restava de autoridade imperial na Gália. Átila recuou para além do Reno e lançou-se sobre a Itália, saqueando e queimando o que encontrava diante de si. Foi nessa ocasião que os venécios, refugiando-se por segurança nas lagunas do Adriático, edificaram sobre as ilhotas as primeiras casas da futura cidade de Veneza (452). Roma foi poupada porque o pontífice Leão Magno implorou a misericórdia do conquistador, o qual anuiu em retirar-se para além dos Alpes, expirando de repente no seu acampamento, pouco depois de transpor o Danúbio (453).

Rómulo Augusto

Igual proceder não teve o chefe vândalo Genserico, a quem a imperatriz Eudóxia chamara para se vingar do assassino de seu marido, o imperador Valentiniano III que a forçara a desposá-lo. Genserico subiu o Tibre com suas embarcações em 455 e apenas garantiu ao pontífice as vidas dos habitantes, contentando-se com seus bens. O saque de Roma durou 14 dias, sendo o seu produto entulhado nos navios que coalhavam o rio; mais de 30 000 habitantes foram também levados como escravos. Cartago estava vingada, e o que restava do império romano do Ocidente evaporou-se como uma sombra diante das contínuas incursões de homens do norte, enquanto no trono se sucediam títeres coroados pelos bárbaros e por eles derrubados. Por fim, como aconteceu na China com a dinastia manchu, o exército aclamou imperador uma criança de seis anos, Rómulo Augusto, a quem deram o diminutivo de Augústulo, o qual melhor lhe assentava do que aquele pomposo duplo nome histórico.

Os hérulos e Odoacro

Destronou-o Odoacro, chefe dos hérulos, germanos do ramo gótico, que tinham vindo da Sarmácia e estavam a soldo dos imperadores romanos, tendo formulado a exigência de uma terça parte das terras italianas para a distribuírem entre si em lotes militares. O outrora tão orgulhoso senado romano solicitou do imperador do Oriente,

Zeno, que consentisse em que a Itália fizesse parte da sua monarquia como província governada por um vice-rei, o qual seria aquele bárbaro, cujo pai tinha sido ministro de Átila e a quem se daria o título de patrício (476).

Os ostrogodos e Teodorico, o Grande

Não durou muito esta modalidade política, que foi um governo fraco. Dezessete anos depois, Teodorico com os seus ostrogodos, que se tinham estabelecido na Panônia depois da morte de Átila e dispersão dos hunos, moveu-se de Constantinopla para vir ocupar a Itália. Os imperadores do Oriente tinham tomado a seu soldo esses ostrogodos para que defendessem o baixo Danúbio, mas acharam-nos aliados irrequietos e perigosos. Teodorico fora educado em Constantinopla e o imperador Zeno aconselhou-o a que fosse disputar aos hérulos a península itálica, ou pelo menos o viu com grande gáudio afastar-se com seus 200 000 homens válidos, seguidos das mulheres, das crianças e dos velhos, porque essas expedições tinham assim sempre o caráter de emigrações. Com seus carros puxados por uma enfiada de juntas de bois, os hunos por pouco não tinham avassalado a Europa, que os germanos percorriam em deslocações de massas.

Teodorico avançou em 488, derrotou os hérulos nos Alpes e submeteu toda a Itália, resistindo Odoacro dois anos e assassinando-o após a rendição, seu competidor que, reunindo a Ilíria, a Nórica, a Récia, a Provença e a Sicília, formou um quase império ao qual durante 33 anos (493-526) deu calma e prosperidade.

Desenvolveu a cultura do trigo, embelezou Ravena, sua capital e sua derradeira morada, protegeu as letras, foi tolerante, deixando os romanos governarem-se por suas próprias leis, e celebrou alianças de família com os reis germânicos do oeste.

Justiniano e suas conquistas

O reino ostrogodo sobreviveu quase 30 anos ao seu fundador. Justiniano (527-565), imperador de Constantinopla, pensando em reunir novamente todo o mundo romano, tratou de anexar a Itália, o que conseguiu por meio dos seus generais, Belisário e depois Narses, após lutas sanguinolentas (554). Narses governou-a então 15 anos como exarca ou duque; sendo porém demitido, chamou por vingança os lombardos que, originariamente da Jutlândia, tinham passado para as margens do Elba, e depois para as do Danúbio. Estes casos de traição são muito freqüentes nessa época turva em que o sentimento nacional ainda não tinha consistência.

 

Os lombardos. Seu poderio e seu declínio

Os lombardos conquistaram facilmente o norte da península itálica, a região que se ficou chamando Lombardia e onde tiveram como capital Pavia (568). Cometeram muitas depredações, ao contrário dos ostrogodos que não maltrataram a população, e estenderam-se até a Itália central e até mesmo o sul. Roma foi por eles ameaçada, solicitando o papa Gregório III a intervenção dos francos. Pouco depois Astolfo perdia em proveito do papa Estêvão II o exarcado de Ravena, que continuara durante quase dois séculos a representar na península itálica a autoridade do imperador romano do Oriente. A conquista e conseqüente exclusão dessa autoridade não tinham sido difíceis aos lombardos desde que eles, fundando seu poderio, tinham interrompido as comunicações entre Roma e Constantinopla. Com tudo isso ia sempre lucrando o prestígio da Igreja.

 

 

 

Como foram desaparecendo as populações barbaras

O último rei dos lombardos, Desidério, foi feito prisioneiro pelo imperador Carlos Magno em 774. Os ostrogodos, por eles vencidos, tinham transposto cs Alpes e tinham-se sumido entre as outras raças germânicas; os lombardos, na Itália mesmo desapareceram como raça, fundindo-se no elemento local latino. Antes de se unirem ao credo ortodoxo de Roma, eram arianistas: a coroa de ferro dos seus reis ostentava um dos cravos que pregaram Jesus na cruz, presente do papa São Gregório Magno à rainha Teodolinda por haver obtido do marido Agilulfo a conversão ao cristianismo romano. Foi por idêntico motivo de heresia ariana entre os vândalos que os católicos da África impetraram a proteção do imperador Justiniano, o qual despachou a assisti-los Belisário, cuja perícia militar conseguiu restituir ao império aqueles territórios após mais de 100 anos de governo estrangeiro (429-533). As tribos vândalas foram igualmente absorvidas pela antiga população, em que se achava um elemento romano transplantado.

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