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Os Imperadores ilíricos e os alemani

A terceira série, de curtos e bons reinados, é a dos imperadores ilíricos (269-284) que, deixando ao senado muito da administração doméstica, foram medir-se com o inimigo nas fronteiras. Os alemães (alemani) foram duas vezes rechaçados, já no Norte da Itália, uma por Cláudio II, cognominado o Gótico por haver repelido os godos da Macedónia, e outra por Aureliano, que mereceu o titulo de res-titutor imperii por essa vitória ganha no Pó, e por outra mais famosa, que foi a alcançada sobre Zenóbia, rainha de Palmira.

Este oásis do deserto sírio, ponto de junção de duas importantes estradas de caravanas, uma da Fenícia e outra da Arábia, tinha-se tornado notável pela riqueza e pela arquitetura dos seus edifícios. Sua rainha, que blasonava descender de Cleópatra, sonhou dominar o Oriente e de fato estendeu seu poder sobre a Síria, o Egito e metade da Ásia Menor. Despertou figurando no triunfo do imperador romano, que lhe poupou a vida.

Probo

Probo não foi menos afortunado nas suas empresas, pois que no Oriente venceu os persas e no Ocidente repeliu até o Elba os francos, alemães e outras tribos.

O império toma um caráter oriental

As fronteiras foram restabelecidas por esses bons guerreiros que também eram bons administradores, mas os bárbaros inundavam todo dique que se lhes opunha. Contudo Diocleciano, um dálmata, nascido de mãe escrava e que começara como soldado raso, conseguiu insuflar no império um novo termo de vida. Para obviar ao assassinato, que era a norma de sucessão, e corresponder à magnitude da tarefa, êle imaginou a tetrarquia por meio de um imperador associado e de dois coadjutores e herdeiros respectivos. Os dois Augustos, que eram Diocleciano e Maximiano, reinaram, um em Milão e outro em Nicomédia, na Ásia Menor, sendo as províncias mais distantes e turbulentas confiadas aos dois Césares, sucessores presuntivos, Galério e Constâncio.

Constantinopla

Diocleciano deu finalmente ao império o aspecto, que tinha ido gradualmente assumindo, de uma monarquia oriental, com todas as formas exteriores do servilismo. O soberano, vestido de seda e ouro, com diadema de pérolas, entrou a ser tratado como um deus, acen-tuando-se quanto Augusto dissimulara. O senado deixou de estar, mesmo nominalmente, associado ao governo, ficando no papel de um conselho municipal. Com a retirada dos imperadores para cidades mais próximas das fronteiras, onde a ação militar se desenvolvia, Roma desceu à categoria de centro de província, e Constantino não atentaria propriamente contra a urbs tradicional ao fundar no Bosforo a Nova Roma, porque o império, mesmo quando se dividiu em dois, continuou por algum tempo romano. Só quando desapareceu o império do Ocidente, foi que o do Oriente passou a ser grego ou bizantino, do nome de Bizâncio, a cidade que veio a chamar-se Constantinopla e que foi com seu fundador capital única.

 

Assédio de Nicéia. Página da crônica "De Passagiis in Terram Sanctam", editada em Veneza, no começo do séc. XIV.

Constantinopla

Justifica-se a transferência, em vez da reposição de Roma na sua antiga dignidade, pelo descontentamento que aí lavraria mais forte pelo abandono da religião nacional; pela conveniência em aproximar o centro do governo dos seus mais perigosos inimigos, como eram julgados os do Oriente, e por outras razões sociais e políticas, visto que as conquistas asiáticas e a influência intelectual helénica tinham deslocado para leste o empório da riqueza e da cultura, secundadas pela população, cujo decrescimento é apontado como um dos motivos do declínio da Roma imperial no século IV.

Decrescimento da população e decadência econômica

Originou-se esse decrescimento nas guerras constantes, no celibato freqüente, na diminuição da natalidade também pelas doenças, entre as quais primava a malária na península itálica. Para a referida decadência contribuíram a diminuição das receitas, mercê das prodigalidades administrativas e da contraproducente taxação excessiva, e o mal-estar econômico produzido pelo estancar das fontes vivas de produção, traduzindo-se sobretudo pela abundância de terrenos baldios. O próprio cristianismo influiu contra a sociedade pagã, reduzindo sua capacidade de resistência em frente aos bárbaros, que eram afinal a pior ameaça.

A transferência da capital

Na tetrarquia de Diocleciano se filia a reorganização administrativa ultimada pelo imperador Constantino mediante a divisão em quatro prefeituras, subdivididas em 13 dioceses e estas por sua vez em 116 províncias. Foi como a remodelação da França em departamentos por ocasião da Revolução, retalhando-se as províncias anexadas e trazendo esta redução territorial nos distritos um enfraquecimento de autoridade nos governadores respectivos, aos quais, pelo estabelecimento de uma hierarquia, se tirava o desejo e o ensejo de levantarem o pendão da revolta.

 

 

 

A reorganização administrativa

Quando Diocleciano (284-305) abdicou e forçou seu colega a abdicar também, indo êle plantar couves em Salone, os Césares subiram a Augustos, mas logo falecendo Constâncio, seus soldados proclamaram imperador o filho, Constantino (306-337), o qual durante 18 anos pelejou contra seus concorrentes, vencendo um deles, Maxên-cio, na ponte Mílvia, perto de Roma, numa batalha em que seu estandarte — lábaro se lhe chamava — ostentava as duas letras gregas X P, a primeira símbolo também da cruz, e formando em monograma o começo da palavra grega Cristos, que é a equivalente da palavra hebréia Messias, a saber, o ungido ou rei. Diz a lenda que na véspera do combate e antes de Cristo mesmo lhe aparecer, Constantino viu no céu uma cruz luminosa acima do sol poente, trazendo em redor a inscrição — In hoc signo vinces. — A cruz, emblema da paz entre os homens, passaria a ser deste modo, por injunção de quem nela sofreu o martírio, emblema de guerra.

Constantino e o seu lábaro

Sob Diocleciano tinham os cristãos sofrido a última e a mais desapiedada das perseguições, que exerceram entre os adeptos da nova fé um processo de seleção, refinando-lhes a têmpera com que tantos arrostaram impávidos os piores suplícios. Galério, genro e sucessor de Diocleciano, fora sobretudo quem movera a perseguição, mas no seu leito de morte (311) restituíra aos cristãos a liberdade do seu culto, que eles tinham vindo progressivamente alcançando através da hostilidade que despertavam, primeiro obtendo licença para erigirem seus templos, logo a adquirirem terras para a comunidade, por fim a de elegerem publicamente seus ministros. Tais concessões datam do século III, mas só em 313 Constantino assegurou a paz ao cristianismo, colocando em pé de igualdade com as outras religiões do império (édito de Milão).

As perseguições aos cristãos e o desenvolvimento da seita

As perseguições anteriores provinham muito mais de causas políticas do que de intolerância religiosa, e assim se explica que um príncipe como Trajano desse ordem de executar todos os cristãos que se declarassem tais. Os cristãos eram demolidores das outras crenças, proclamando a falsidade dos deuses pagãos que o Estado reconhecia; eram essencialmente proselíticos, vendo crescer cada dia o número de irmãos; e ao mesmo tempo intransigentes, recusando reverenciar o genius ou espírito protetor do imperador e portanto prestar, como cidadãos, juramento de fidelidade; não queriam saber de jogos de circo nem das escolas oficiais, antes reunindo-se nas catacumbas onde depositavam seus mortos.

Sua atitude dentro do Estado

Congregando-se secretamente e pela calada da noite em galerias subterrâneas, os cristãos ofereciam um indício aceitável de que maquinavam contra a segurança do Estado e explica-se facilmente a suspeição em que eram tidos pelos não iniciados. Nem o seu credo no conceito dos pagãos era o de uma nação, sim o de uma seita. Roma respeitava o nacionalismo religioso: o Panteão de Agripa era dedicado às divindades ancestrais da família Júlia (Vergílio fêz César descender de Julo ou Ascânio, filho de Enéias, que tinha por mãe Vénus) e ao mesmo tempo aos deuses dos diferentes povos do império, cujas crenças assim se abrigavam sob a égide romana. A rápida disseminação do cristianismo afigura-se um impossível diante de semelhantes obstáculos, mas a verdade é que no tempo de Constantino já 20% da população do império era cristã: cristã era a própria mãe do imperador, Santa Helena, natural da Britânia.

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