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A vida e a política municipais

O mundo romano foi um mundo de cidades e de cidades florescentes, muitas com água copiosa, algumas com bons esgotos. A vida municipal era intensa, a política local animada e a melhor classe interessada no seu andamento e resultados. Os duumvirí ou cônsules e os curiales ou conselheiros das municipalidades moldadas pela romana — a cúria equivalia ao senado — eram geralmente pessoas ricas que não recebiam salário e até contribuíam, ao serem empossadas, para os gastos da administração. Tais contribuições constituíam mesmo o melhor das receitas municipais, afora o rendimento de propriedades públicas eventuais, como minas ou pedreiras. Uma lei curiosa obrigava os candidatos escolhidos a cumprirem suas promessas eleitorais.

Generosidade cívica. Troca de doações

Do erário imperial saíam dádivas para fins de educação, de beneficência, de saneamento e de deleite — escolas, asilos, aquedutos e termas; mas também quando veio o tempo das vacas magras em Roma, os curiales provinciais, que não podiam renunciar seus cargos, tornados hereditários por lei, viram-se compelidos ao ofício de cobradores imperiais e, pior do que isso, a cobrirem qualquer deficit com os seus bens. Do tesouro dos particulares opulentos saíam, aliás voluntariamente, muitas doações: em vida e depois da morte, por meio de legados, eles rivalizavam em largueza cívica, citando-se entre outros o ateniense Herodes Áticus (104-180), preceptor de Marco Aurélio, o qual construiu na sua cidade um estádio de mármore podendo conter toda a população, deu a Delfos um campo de carreiras, a Corinto um teatro coberto, a Olímpia um aqueduto, a Atenas mais uma sala de concertos chamada o Odeão, não se esgotando aí a lista das suas doações.

A descentralização e a resistência do Império

A descentralização municipal dentro de uma unidade relativamente perfeita, pois que a absorção romana a todos os campos se estendia, contribuiu para a resistência desenvolvida pelo império contra as piores vicissitudes que o assaltaram, provenientes das contendas armadas pela sucessão, surgindo competidores em cada recanto do imenso território onde as águias das legiões detinham, quanto lhes era possível, as incursões dos inimigos externos. Tão perigosos estavam parecendo, que em tempo de Aureliano (270-275) foi julgado útil refazer todas as muralhas de Roma, a qual ia ter que pugnar pela sua própria existência.

Imperadores de toda espécie. Vitórias godas e persas

Os imperadores de caserna podem cronologicamente ser subdivididos em três séries. A primeira é denominada dos príncipes sírios, pelo fato de ser síria a esposa de Sétimo Severo. Heliogábalo manchou a púrpura com seus vícios abjetos, mas Alexandre Severo, seu primo, resgatou a honra da dinastia. Os usurpadores militares enchem a segunda série (235-268), a começar pelo gigantesco Maximino, que era trácio. Cabem nesta segunda época tumultuaria o desastre de Décio, derrotado e morto em 249 pelos godos dalém Danúbio que invadiram a Moésia, a Trácia e a Macedónia, e aos quais teve que ser pouco depois abandonada a Dácia por Aureliano, e a vergonha de Valeriano (253-260), batido e capturado pelos persas que fizeram desaparecer o perigo parto, estabeleceram uma dinastia nacional e, procurando reaver dos romanos seus antigos domínios asiáticos, invadiram a Mesopotâmia e a Síria. A desagregação já era tanta que até governadores de províncias se afoitavam a rebelar-se, com vistas de se tornarem independentes.

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