CANHAMBORA e CURUPIRA – Folclore nativo

canhambora

CANHAMBORA Amadeu Amaral deixou-o num claro verbete em seu "Dialeto Caipira", São Paulo, p. 105, 1920: Escravo fugido, que geralmente vivia em quilombolas ou malocas pelos matos. Beaupaire Bohan regista as variantes "caiambola, ca-lhambola, canhambola, canhambora, canhembora, caiam-bora". Segundo Anchieta, citado pelo mesmo, o tupi "ca-nhembara" significa fugido e fugitivo. Houve talvez alguma confusão com … Ler mais

CAVALO SEM CABEÇA – Mito variante

CAVALO SEM CABEÇA

CAVALO SEM CABEÇA E’ uma réplica necessária à Mula-sem-cabeça, a Bur-rinha-de-padre, do nordeste brasileiro. Parece que o espírito popular atendeu, por antecipação, o reparo.- do Prof. Basílio de Magalhães (O Folclore do Brasil, p. 70, nota 85); Ao meu sentimento de justiça repugna que somente se fira com tão terrível fadário a frágil filha de … Ler mais

A MULA-SEM-CABEÇA – História da Lenda do Folclore

A MULA SEM CABEÇA

A MULA SEM CABEÇA A Mula-sem-cabeça, Burrinha-de-padre ou simplesmente Burrinha, é o castigo tremendo da concubina do padre católico. Na noite de quinta para sexta-feira muda-se numa mula, alentada e veloz, correndo com espantosa rapidez, até o terceiro cantar do galo. Seus cascos afiados dão coices que ferem como navalhadas. Homens ou animais que encontra … Ler mais

A PISADEIRA – Folclore Paulista

folclore brasileiro

A PISADEIRA Essa é uma mulher muito magra, com os dedos compridos e secos e unhas enormes. Tem as pernas curtas, cabelo desgadelhado, queixo revirado para cima e nariz magro e muito arcado. Sobrancelhas cerradas e olhos acesos. Quando a gente acaba de cear e vai dormir logo, deitado de costas, ela desce do telhado … Ler mais

A ONÇA MANETA – Lenda do Folclore Paulista

A onça-Maneta

A ONÇA MANETA A ONÇA MANETA É um animal que perdeu uma das patas dianteiras. Identificam-no pelos vestígios. De espantosa ferocidade, forca invencível e mais ágil, mais afoita, continuamente esfomeada, ataca rebanho e currais, lutando rapidamente para desaparecer e retomar adiante o fio das mesmas proe-sas. Deixa o rasto de suas três patas nas areias. … Ler mais

O PAPA — FIGO – Lenda do Folclore, segundo Gilberto Freyre

lenda do papa figo

O PAPA — FIGO O Papa-Figo é o lobisomem da cidade. Não muda a forma. E’ um negro velho, sujo, vestindo farrapos, com um saco ou sem ele, ocupando-se em raptar crianças para comer-lhes o fígado ou vendê-lo aos leprosos ricos. E’ alto e magro. Noutras regiões é muito pálido, esquálido, com barba sempre por … Ler mais

A VINGANÇA DO CORONEL

A VINGANÇA DO CORONEL O ano correra bem e seu Brás, homem devoto, que nunca perdia missa ou terço rezado nas circunvizinhanças do povoado de Jataí, havia colhido, a poder de mutirões e de promessas, nada menos que onze sacas de feijão mulatinho — um despropósito! Veio, então, pressuroso, à vila, vender a mercadoria, e … Ler mais

A MATA DO QUINCÃO – Folclore Paulista

A MATA DO QUINCÃO Quem demandasse a cachoeira dos índios, ou o Porto da Quiçança, pela estrada velha da Santa Rita, tinha forçosamente de atravessar a mata do Quincão. E todo viajante fazia força de alcançá-la ainda com dia claro, para completar-lhe, assim, a perigosa travessia. E’ que essa mata era mal-assombrada. Dentro da padronagem … Ler mais

VALES SUBMERSOS NA AMAZÔNIA

VALES SUBMERSOS NA AMAZÔNIA

Tipos e aspectos do Brasil – coletânea da Revista Brasileira de Geografia Fonte: IBGE – Conselho Nacional de Geogragia. 8ª edição. Rio de Janeiro, 1966. VALES SUBMERSOS NA AMAZÔNIA Antônio Teixeira Guerra A PAISAGEM física da Amazônia é caracterizada pela existência de uma densa e pujante floresta que extravasa os limites políticos da Amazônia clássica, … Ler mais

Dos costumes dos séculos XV e XVI e da situação das belas-artes – VOLTAIRE

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

CAPÍTULO CXXI

Dos costumes dos séculos XV e XVI e da situação das belas-artes

Vê-se que na Europa quase não havia soberanos absolutos. Os imperadores, antes de Carlos V, não ousavam aspirar ao despotismo. Os papas exerciam maior autoridade em Roma do que antes, mas bem menor sobre a Igreja. As coroas da Hungria e da Boémia continuavam a ser electivas, bem como todas as do Norte; e a eleição supõe, necessariamente, um acordo entre o rei e a nação. Os reis da Inglaterra não podiam nem fazer leis, nem delas abusar, sem o concurso do Parlamento. Isabel de Castela havia respeitado os privilégios das Cortes, que constituíam os Estados do Reino. Fernando, o Católico não tinha podido destruir a autoridade do justiceiro, que se acreditava com o direito de julgar os reis. Só a França, desde Luís XI, se tornara um Estado puramente monárquico, governo feliz quando um rei, tal como Luís XII, repara, pelo seu amor ao povo, todas as faltas que comete para com os estrangeiros, mas o pior dos governos, com um rei pusilânime ou mau.

Costumes, usos, comércio e riquezas nos séculos XIII e XIV – VOLTAIRE

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

CAPÍTULO LXXXI

Costumes, usos, comércio e riquezas nos séculos XIII e XIV

Eu gostaria mais de dizer como realmente era, então, a sociedade dos homens, como se portavam eles no interior dos seus lares, que artes cultivavam, do que repetir a narrativa de tantas desgraças e de tantos combates, sinistros objectivos da história e lugares-comuns da maldade humana.

Em fins do século XIII e nos primórdios do século XIV, parece-me que se começava na Itália, apesar de tantas dissensões, a sair da noite negra da ignorância de que se cobrira a Europa depois da queda do império romano. As artes essenciais não haviam perecido. Os artesãos e os comerciantes, cuja obscuridade afasta o furor ambicioso dos grandes, são como formigas a cavar suas moradas em silêncio, enquanto as águias e os gaviões se estraçalham lá no alto.

EDGAR ALLAN POE sobre NATHANIEL HAWTHORNE

EDGAR ALLAN POE –

NATHANIEL HAWTHORNE

A reputação do autor de "Twice-Told Tales" foi confinada até há bem pouco tempo à sociedade literária e não errei, talvez, em citá-lo como o exemplo, por excelência, neste país, do homem de génio, admirado nos círculos privados e inapreciado pelo público. É certo que no ano passado, ou no atrasado, a crítica, dando azo a justa indignação, muito concorreu para que ele fosse calorosamente consagrado.

O Sr. Weber, por exemplo (ninguém lhe excede no gosto apurado por essa maneira de escrever, em cuja ilustração o Sr. Hawthorne se notabilizou), deu-nos num recente número da "The American Review" um testemunho amplo e cordial do seu talento, e desde a publicação de "Mosses from an Old Manse", as críticas no mesmo diapasão não têm sido, de modo algum, pouco frequentes nos nossos jornais mais autorizados. Posso lembrar-me com facilidade das poucas obras de Hawthorne publicadas antes de "Mosses". De uma recordo-me em "Arcturue" (editado por Mattheus e Duyckinck), em Maio de 1841, outra, no "American Mon-thly" (editado por Hoffman e Herbert), em Março de 1838, de uma terceira no nonagésimo sexto número da "North American Review". Estas críticas, no entanto, pareciam ter pouca influência sobre o gosto popular — pelo menos, se devermos formar qualquer ideia do gosto popular tomando–se por base sua expressão nos jornais ou na venda do livro do autor. Não era costume, até há bem pouco tempo, incluir-se o seu nome no resumo dos nossos melhores autores. Os críticos dos periódicos costumavam indagar em tais ocasiões: "Não há Irving e Cooper, e Bryant, e Paulding, e — Smith"; ou "Não temos Halleck e Dana, e Longfellow, e — Thompson?", ou "Não podemos indicar triunfalmente o nosso próprio Sprague, Willis, Channing, Bancroft, Pres-cott e — Jenkins?" Mas estas indagações irrespondíveis nunca envolviam o nome de Hawthorne.

ABRAHAM LINCOLN, texto de JAMES RUSSELL LOWELL

JAMES RUSSELL LOWELL (1819 – 1891)

ABRAHAM LINCOLN

MUITAS crises dolorosas têm havido desde que a vaidade insopitável da Carolina do Sul instigou dez prósperas comunidades a um crime cuja recompensa final era ficarem à mercê da nação que tinham desmantelado ou ao alvedrio da anarquia que provocaram e não puderam controlar, quando já nenhum americano de senso abria seu jornal matutino sem o pavor de concluir que não mais possuía uma pátria para amar e para honrar. Qualquer que fosse o resultado da convulsão cujos primeiros embates se começavam a sentir, ainda haveria suficientes milhas quadradas de terra onde trabalhar; mas o inefável sentimento, composto de memória e esperança, de instinto e tradição, que enche o coração de todos os homens e informa seu pensamento, embora talvez nunca presente à sua consciência, se desgarraria, deixando-lhe a terra comum e nada mais. Dela, os homens poderiam colher frutos opi-mos, mas a safra ideal de preciosas reuniões, essa não se repetiria mais; aquela bela virtude que esgotou mensagens de coragem e segurança, oriundas de cada um de seus componentes, ter-se-ia extinguido irremediavelmente e sem deixar vestígio. Sentir-nos-íamos inexoravelmente desligados do passado e forçados a unir os destroços de nossas vidas a qualquer nova condição que um promissor acaso deixasse ainda a nos acenar.

Luís IX – São Luís da França, Por Voltaire

De São Luís. Seu governo, sua cruzada, o número de seus navios, suas despesas, sua virtude, sua imprudência, suas desditas

Luís IX parecia destinado a reformar a Europa, se tal tivesse sido possível, a tornar a França gloriosa e civilizada, e a ser, em tudo, o modelo dos homens. Sua piedade, que era a de um anacoreta, não o impedia de possuir todas as qualidades de governante; uma sábia economia não se tornou incompatível com a sua liberalidade. Soube conciliar uma política sagaz com uma justiça rigorosa e exacta; e talvez seja o único soberano a merecer este elogio: prudente e firme nas deliberações do Conselho, intrépido nos combates, sem de deixar arrebatar, compassivo, como se fora sempre infeliz.

PRÓLOGO DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES DE VOLTAIRE

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES PRÓLOGO (Trechos) QUEREIS, enfim, dominar o tédio que vos causa a história moderna, desde a decadência do império romano, e obter uma ideia geral das nações que habitam e afligem a terra? Não procureis nessa imensidade senão o que merece ser conhecido: o … Ler mais

Dos Normandos no século IX – VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

VOLTAIRE – DO ENSAIO SOBRE OS COSTUMES E O ESPÍRITO DAS NAÇÕES

CAPÍTULO XXV

Dos Normandos no século IX

Estando tudo dividido 1, tudo redundava em desgraça e fraqueza. Tal confusão abriu passagem aos povos da Escandinávia e aos habitantes das margens do mar Báltico. Esses bárbaros, bastante numerosos, não tendo para cultivar senão terras estéreis, não possuindo manufacturas e privados das artes, procuravam uma oportunidade para expandir-se longe da pátria. O banditismo e a pirataria lhes eram necessários, como a carnificina aos animais ferozes. Na Alemanha, chamavam-nos Normandos, homens do Norte, sem distinção, como dizemos ainda, generalizando, os corsários da Barbaria. Desde o século IV eles se misturavam às vagas dos outros bárbaros que levavam a desolação até Roma e a África. Vimos que, com os movimentos tolhidos e sob controle no reinado de Carlos Magno, temeram a escravidão. A partir da época de Luís, o Bonachão, puseram-se a deslocar-se e a incursionar pelas regiões vizinhas. As florestas que abundavam em suas terras forneceram-lhes madeira suficiente para a construção de barcos de remo e a duas velas, com capacidade para cem homens, com suas provisões de cerveja, biscoitos, queijo e carne defumada. Assim equipados, faziam-se ao mar, costeando as terras, desembarcando onde não encontravam nenhuma resistência e regressando com o fruto da pilhagem, que repartiam em seguida, de acordo com as leis do banditismo, tal como se pratica na Barbaria. No ano 843 penetraram na França pela embocadura do Sena e saquearam a cidade de Ruão. Outra frota entrou pelo Loire e devastou tudo até a Touraine. Levavam consigo os homens, para servirem de escravos, apoderando-se até das crianças, para ensinar-lhes a arte da pirataria. O gado, os móveis, tudo carregavam. Vendiam, às vezes, numa costa, o que haviam pilhado em outra. Seu bom êxito inicial excitou a cupidez dos seus compatriotas indigentes. Os habitantes das costas germânicas e gaulesas a eles se juntaram, do mesmo modo como tantos renegados da Provença e da Sicília tinham servido nos navios da Argélia.

O governo-geral da Bahia (vice-reino) – História do Brasil Colonial

Gottfried Heinrich Handelmann (1827 – 1891) História do Brasil Traduzido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (IHGB) Publicador pelo MEC, primeiro lançamento em 1931. SEGUNDA SEÇÃO – A colonização do Brasil –   CAPÍTULO IX O governo-geral da Bahia (VICE-REINO) O terceiro grupo de Estados brasileiros, o governo-geral da Bahia, temporariamente decorado com o título … Ler mais

A capitania geral de Pernambuco – Brasil Colônia

CAPÍTULO VIII

A capitania geral de Pernambuco

O segundo grupo de Estados brasileiros é a capitania geral de Pernambuco, que se estendia entre os limites do antigo Estado do Maranhão de um lado, o rio São Francisco de outro lado, e compreendia as atuais províncias do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

Foi esta mesma região a que formou o principal elemento do impérií^olonial da Companhia Holandesa das índias Ocidentais, a Nova Holanda Brasileira, e nós interrompemos a sua história justamente no momento em que com a capitulação do Recife, a 26 de janeiro de 1654, ficou completamente restabelecida a soberania portuguesa. Com isto as antigas condições de novo se estabeleceram, se bem que com grandes modificações.

Antes da invasão holandesa existiam, como se sabe, entre o Ceará e o rio São Francisco, quatro capitanias, sendo duas da coroa, Rio Grande do Norte e Paraíba, e duas feudais, Itamaracá e Pernambuco; estas ambas ainda se transmitiam por via de sucessão à descendência dos primitivos donatários: Itamaracá, à de Pero Lopes de Sousa; Pernambuco, à de Duarte Coelho. Os governadores hereditários não haviam, porém, podido conservar os seus domínios nem reconquistá-los; a guerra de independência contra os holandeses foi conduzida não nos seus nomes, mas sob as bandeiras reais, e assim o rei d. João IV julgou-se com direito de confiscar os dois feudos e reuni-los à coroa. Naturalmente protestaram contra isso as duas famílias interessadas e por meio de reclamações e queixas judiciais procuraram obter a revogação desta medida. Assim, em primeiro lugar quanto a Pernambuco, Duarte d’Albuquerque Coelho, o último herdeiro feudal que havia estado realmente empossado, falecera ainda durante a guerra de libertação e havia deixado uma única filha herdeira, a esposa de d. Miguel de Portugal, conde de Vimioso; esta intentou um processo contra o rei, para a restituição do seu feudo hereditário, e os seus descendentes continuaram o mesmo durante sessenta anos, com alternativas da sorte, isto é, diversas vezes obtendo sentença favorável; porém, sempre lhes foram contrapostos novos embargos.

Finalmente, quando se compenetraram de que a coroa de modo algum desistiria desta importante província, propuseram uma acomodação; com a sanção do rei d. João V concluiu o pretendente, d. Francisco de Portugal, conde de Vimioso, um ajuste com o procurador da coroa, no qual ele renunciava para si e seus herdeiros a todos os direitos sobre Pernambuco, e em troca receberia, a título de indenização, a quantia de 80.000 cruzados, pagáveis em dez iguais prazos anuais e além disso o marquesado português de Valença, que sob o mesmo título passaria ao seu filho e, sob o título de conde, deveria passar aos seus seguintes descendentes (1716).

O Estado do Maranhão – A COLONIZAÇÃO DO BRASIL

Gottfried Heinrich Handelmann (1827 – 1891) História do Brasil – SEGUNDA SEÇÃO – A COLONIZAÇÃO DO BRASIL Traduzido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (IHGB) Publicador pelo MEC, primeiro lançamento em 1931.   CAPÍTULO VII O Estado do Maranhão Começamos com o Estado do Maranhão, que, constituído pelo decreto real de 13 de junho de … Ler mais

A colonização do Brasil – PRELIMINAR

A colonização do Brasil PRELIMINAR

"Um país de vastíssima extensão como o nosso, onde a população se acha disseminada em grupos, em muitos pontos separados uns dos outros por grandes distâncias e péssimas estradas; — onde, portanto, é difícil levar a instrução necessária para convencer os habitantes dos seus verdadeiros interesses a muitos respeitos; — onde também dificilmente pode chegar a ação da autoridade, a toda parte, seja para levar socorro rápido a todos os habitantes, quando eles o necessitam, seja para aplicar medidas coercitivas contra aqueles que não se querem submeter às ordens do governo, para o bem geral…" (Luís Pedreira do Couto Ferraz, ministro do Interior, no seu relatório oficial ao Parlamento Brasileiro, 11 de maio de 1855).

Invasões Holandesas no nordeste do Brasil

Gottfried Heinrich Handelmann (1827 – 1891)

História do Brasil

Traduzido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (IHGB) Publicador pelo MEC, primeiro lançamento em 1931.

 

CAPÍTULO V

Os holandeses no Brasil

É sabido que a Confederação das Sete Províncias Unidas, constituída pela União de Utrecht, de 23 de janeiro de 1579, teve que sustentar, para o reconhecimento da sua independência, uma guerra de setenta anos contra a coroa de Espanha (1579-1609 e 1621-24 de janeiro de 1648), e que durante a mesma, e por obra dela, a Confederação se elevou à categoria de primeira potência naval e comercial européia.

Nessa guerra, desde a sua união com a Espanha, era agora também envolvido Portugal, e o seu comércio, as suas colônias indefesas, eram os que mais sofriam com isso.

BARQUEIROS DO RIO SÃO FRANCISCO

BARQUEIROS DO SAO FRANCISCO - percy lau

O S TIPOS sertanejos das margens do São Francisco não resultam apenas do caldeamento dos elementos que compuseram a população do vale do grande rio. Decorrem também dos diferentes “gêneros de vida” a que foram levadas aquelas populações ao entrarem em contacto com um meio físico diverso.

Se as condições do meio físico acabaram por definir — no tempo e no espaço — cada tipo social já esboçado pelas circunstâncias da economia da época, a sua estruturação resultou, no fundo, da função antropogeo-gráfica do rio, que o espírito de aventura cedo descobriu.

Dominação Espanhola e Segunda Invasão Francesa no Brasil

A voz do povo decidiu-se pelo primeiro e tumultuosamente foi ele aclamado rei; a sorte das armas, porém, se decidiu pelo último, e após pequena resistência submeteu-se todo o Portugal ao vencedor, no que foi acompanhado pelas colônias portuguesas. Assim também o Brasil. Verdade é que apareceram ali, em 1581, diversos navios franceses com cartas do prior do Crato, nas quais ele exigia submissão, como mais próximo herdeiro e rei aclamado; a mensagem, porém, chegou tarde demais, pois já haviam as autoridades reconhecido o rei de Espanha, além de que viera sob uma bandeira, que os brasileiros desde muito estavam habituados a considerar como a de seus mais acirrados inimigos e, assim, foi ela rejeitada sem mais cerimônia. As capitanias, uma após outra, prestaram submissão ao rei Filipe II, provisoriamente com simples manifestações de contentamento, e mais tarde, por ordem expressa, foi-lhe prestado o juramento formal na Bahia, aos 25 de maio de 1582.

Esta mudança na dinastia quase não fez diferença alguma no direito público de Portugal e suas colônias, pois no parlamento, em Tomar, concedeu Filipe II que, entre ambos os reinos da Península Ibérica, a união se efetuaria somente na pessoa do monarca: Portugal conservaria a sua língua, as suas leis, as suas colônias, e tanto aqui, como lá, ocupariam os cargos somente os filhos do país.

Estas promessas, todavia, não foram estritamente cumpridas e, assim, Portugal sentiu-se dentro de pouco tempo profundamente ferido na sua nacionalidade, execrando a imposta dominação espanhola.

Diferentemente sucedia no Brasil: aqui se sentiam as pequenas humilhações menos apaixonadamente que além-mar, pois para o Brasil era de fato indiferente que o seu rei residisse em Lisboa ou em Madri, que fosse um português ou um espanhol ocupar os mais importantes cargos da colônia.

A coroa de Portugal e a primeira guerra francesa

As eloqüentes representações de Luís de Góis, além dos anteriores conselhos do donatário Duarte Coelho, e, talvez, mais do que tudo, a notícia do lutuoso destino do donatário da Bahia, incitaram afinal o rei d. João III a interessar-se seriamente pela colonização do Brasil.

A princípio, cogitou, de fato, apenas de pequenos auxílios: mandaria alguns navios com provisões e novos colonos; cederia a uma companhia de negociantes o monopólio e a proteção do Brasil. Felizmente, porém, a conselho do experimentado donatário Pero de Góis, estes mesquinhos projetos foram abandonados e, em seu lugar, lançou-se mão, mais uma vez, de uma providência de vulto, como se fazia mister. Foi resolvido que a própria coroa se interessaria na colonização brasileira e fundaria neste país uma capitania real, que deveria ser bastante forte para proporcionar às demais auxílio e proteção, toda vez que disso precisassem.

Para sede de tal estabelecimento foi escolhida a antiga capitania da Bahia, preferida por estar situada como que no ponto geográfico central da então América portuguesa; e os herdeiros do donatário Francisco Pereira Coutinho, completamente empobrecidos, não podendo pensar em tomar posse da sua capitania, concordaram do melhor grado em cedê-la de novo à coroa, mediante uma renda anual hereditária de 400$000.

Os principados feudais portugueses – História do Brasil de Handelmann

CAPÍTULO II

Os principados feudais portugueses

Voltemos agora ao litoral brasileiro. Ficou já referido como aí, nos primeiros decênios do século XVI, não só os portugueses rendeiros de monopólios, como também mercadores de outras nações, máxime franceses da Bretanha e da Normandia, exploravam lucrativo tráfico no litoral e fundaram até feitorias em vários pontos.

Em vão Portugal havia procurado pôr cobro a isso, por meio de sucessivas reclamações à corte de Paris, contra tais violações dos seus direitos.

Os reis de França, entretanto, não podiam ou não queriam restringir essa atividade por parte dos seus vassalos, e, sendo assim, mercadores, que partiam de Honfleur e de Dieppe para o Brasil, prosseguiram, como dantes, na exploração do seu negócio.

Em vista disso, decidiu-se d. João III de Portugal (1521-1557) a reprimir por si mesmo esses desmandos; e, para esse fim, mandou aprestar uma frota armada, que deveria estacionar nas costas sul-americanas e fazer o cruzeiro contra tais contrabandistas; o almirante nomeado foi Cristóvão Jacques, que, em fins de 1526, apareceu com seis naus nas costas da província de Pernambuco.

Como aconteceu o Descobrimento do Brasil – História do Brasil de Handelmann

Gottfried Heinrich Handelmann (1827 – 1891)

História do Brasil

Traduzido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (IBGE)

CAPÍTULO I – O descobrimento

A história dos tempos primitivos do império do Brasil é tão desconhecida e obscura como a dos Estados Unidos da América do Norte, até ainda mais, pois nem ao menos um raio de luz penetra ali a espessa treva.

Acontece, entretanto, ter chegado ao nosso conhecimento um ou outro monu mento, que atesta fatos de remota antiguidade.